top of page

MINHAS MÚSICAS>

Vira lata

Teve uma madrugada que eu não estava conseguindo dormir e saí pra espairecer. Levei só minha carteira de cigarros e meus pensamentos confusos. Antes de dobrar a esquina de casa um cachorro se achegou e caminhou comigo. Nunca tinha visto ele. Estava sarnento e com um machucado na orelha, provavelmente tinha brigado ou apanhado há pouco. Fiquei viajando que ele também apareceu ali porque não tinha sono e estava confuso, como eu. Senti uma irmandade com o vira lata que foi uma coisa muito forte. Caminhamos pela vila até que eu não tivesse mais cigarros. É uma pena que ele não fumasse também. Pensei que ele ia querer ficar ali pela minha casa, tem cachorros carentes que são assim, mas aquele não: me despedi dele e ele foi embora, nem olhou com aquele jeito pedinte de cachorro. Aí sim que eu simpatizei com ele. O resultado da simpatia foi essa canção, Vira Lata.

Vamos plantar árvore

Às vezes, depois de um período no paraíso, você tem um choque ao voltar pra realidade. Isso me aconteceu depois de passar uns dias no Vale da Utopia, em Santa Catarina, na companhia do meu irmão Nicanor. Conseguimos carona facinho pra sair de Cidreira-RS, e chegamos no vale. Lá encontramos um pessoal que estava acampado, numa época em que o Vale não era tão popular. Ficamos uma semana ouvindo reggae, fumando maconha, catando mariscos e tomando banho de mar. Depois voltei pra Gramado, e quando estava quase chegando em casa a polícia me abordou e procurou, mas procurou mesmo, por um baseado nas minhas coisas. Por sorte já tava na mente, ou eu teria apanhado. O policial falou: "se a gente achar alguma coisa tu vai pra delegacia todo arrebentado, seu maconheiro". Como não acharam nada vieram com aquele papo de O senhor nos desculpe, mas esse é o procedimento. Procedimento de bosta esse. Enfim, entristecido pela recepção ao chegar na cidade em que nasci, logo que cheguei em casa compus esse reggae, influenciado tanto pela semana no paraíso quanto pela infeliz chegada que tive. Foi gravada num domingo no estúdio do Alexandre Viera, grande músico e compositor de Poa, que depois de gravar botou 2 garrafas dum vinho coisa muito fina pra relaxarmos. Os backings e a percussão são da Elisa Rates Vieira, minha namorada naquela época, e minha parceira de muitas viagens.

Milagreiro

Um blues muito antigo que foi uma resposta para quem duvidava que era possível viajar sem muito dinheiro pelo mundão, ainda que pra conseguir isso tem que ser um pouco milagreiro. Começou a ser composta lá por 2008, quando eu estudava Letras na UFRGS, e deve ter levado quase um ano pra ficar pronta, pois não sou um compositor muito disciplinado. Um sambista antigo disse que "Samba é que nem passarinho, quando ele passa tem que pegar", e eu acrescento que o blues também é assim: tem que deixar ele chegar, se acostumar contigo e não pode ter pressa, senão ele se irrita, vai embora  e nunca mais volta. 

bottom of page